O poeta falou
Até um dos expoentes da literatura brasileira se rendeu à beleza do canto coral Júlia Pardini
Heitor Zagnoli
Carlos Drummond de Andrade, em pintura de Cândido Portinari. Crédito: Reprodução.
E não é que o poeta maior dedicou algumas palavras ao Coral Júlia Pardini? No princípio de agosto de 1982, em sua coluna diária no Jornal do Brasil, o itabirano Carlos Drummond de Andrade deu seu testemunho sobre o grupo regido por Tia Elza:
O movimento dos corais, Brasil a dentro, é uma coisa fascinante. Deus louvado, passou a era em que todo jovem só pensava em formar conjuntos estridentes, com bateria infernal, enlouquecendo moradores pacatos a noite inteira. Hoje, moças e rapazes trocam de música e partem para o coral. O Júlia Pardini, de Belo Horizonte, é dos mais antigos (a associação mantém um jornalzinho há 22 anos) e serve de modelo para muitos outros. Agora está formando um “coralito”, crianças de 4 a 6 anos, que lembra a sementeira esportiva dos juvenis do futebol: no caso, juvenilíssimos. Uma garota de 8 anos regeu “Aleluia”, de Haendel, para a população deslumbrada de um dos bairros mais humildes da capital mineira. Palavra que emociona a gente saber que trabalhadores como Vanessa, trocadora de ônibus, Consolação, caixa de padaria, Dayse, faxineira, Mauro, bar-man, sem se importarem com o cansaço do serviço, ocupam as horas disponíveis ensaiando no coral. Essa turma viajou para o México no mês passado. O canto une as pessoas e cria um universo de beleza.
Carlos Drummond de Andrade
Jornal do Brasil, 06/08/1982
Celeiro da música coral em Belo Horizonte, do Coral Júlia Pardini saíram profissionais como as professoras da Escola de Música da UFMG Luciana Monteiro e Marilene Gangrana, o talento regente e instrumentista Luiz Flávio, a cantora Ivânia Marinho e tantos outros cantores que se tornaram regentes da música coral.
Apresentação do Coral Júlia Pardini na Universidade de Barcelona, em 2010
Mesmo assim, com toda a coragem e conquistas, Tia Elza insiste não servir de exemplo para ninguém. Trabalhando em silêncio e sem esmorecer, Tia Elza e o Coral Júlia Pardini vêm – sem propaganda e divulgação – vencendo todos os tropeços, superando as dificuldades e firmando seu conceito por meio do esforço de cada componente, dentro e fora do país. Prova da força de sua mensagem, tão harmoniosa quanto apurada: a arte.
Cantar e comunicar beleza é o objetivo desse coral que só tem um propósito: elevar o nome de Belo Horizonte e projetar a cultura mineira no cenário nacional, sem polêmica, nem discussão. E fica não como lembrança esquecida, mas como tesouro inesgotável que Tia Elza faz questão de permanecer à frente. “Não sinto que é hora de parar, pois nestes 51 anos, regendo o Coral Júlia Pardini, continuo sendo solicitada e enquanto puder servir à música me sentirei com 18 anos e começarei tudo de novo”.
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