02-07-2011 01:08

Se a moda pega...

CRÔNICAS E HISTÓRIAS SOBRE MINEIROS

Um mineiro e profundo estudioso sobre a corrupção no Brasil garante: o viés moralista é que atrapalha o combate aos atos ilícitos

 Por André Martins

Imagem: sxc.hu

Corrupção: um mal incorrigível dos brasileiros. Não sempre, mas eventualmente escutamos algo que sugere tal correlação. A equação é simples e, claro, simplista. Posso parecer ingênuo e até iludido, depende da maneira como cada um enxerga e apreende a realidade à sua volta, mas acredito que temos mudados nossas mentalidades. Na minha maneira de perceber o momento vivido, vejo o brasileiro cada vez menos tolerante com os desvios. O que é extremamente positivo em qualquer local do mundo. Aqui, isso tem um significado indelével, já que o Brasil é um país sedento por moralidade no exercício do serviço público. E não sou o único a afirmar isso. O professor de Ciências Politicas da UFMG e doutor com tese sobre corrupção, o mineiro Fernando Filgueiras, tem, inclusive, um estudo voltado para o tema.

Associar a corrupção a determinados povos é como dar crédito às teorias defasadas que defendiam os determinismos (relacionados à personalidade bem como às condições impostas pela natureza, o que é ainda mais incabível). Especialistas já comprovaram que a corrupção, nas suas mais diversas facetas, está presente em sociedades em desenvolvimento, mas também no chamado primeiro mundo, que parece imune a esse problema. Pré-conceitos. O correto, seria, talvez, falar em momentos de corrupção. Em algumas sociedades eles são curtos, em outras pelo contrário, parecem perenes.

Podemos pensar então no que força a esse interessante revés. Seria o amadurecimento do sistema democrático, após pouco mais de 25 anos do fim do Regime Militar? A força das redes sociais, na medida em que promovem o diálogo, o confronto de ideias e dilata das possibilidades de participação popular? Ou seria a gradual, ainda que tímida, politização de nosso povo? As perguntas são muitas, mas a mim fica a certeza de que algo, de fato, passa por um processo de metanóia, transformação.

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O Brasil é um país sedento por moralidade no exercício do serviço público
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Por meio da web, percebemos como as pessoas, na sua voraz indignação até se excedem diante de escândalos. Ainda que externada de maneira atabalhoada, prefiro que assim seja. Essa capacidade de estranhar os desvios é importante, ou melhor, é necessária. E o exercício sistemático disso condiciona o pensamento e reafirma a, neste caso especificamente, salutar intolerância.

É claro que não podemos nos esquecer de um ponto que também merece destaque e um pouco de nossa atenção. Corrupção não diz respeito apenas à postura indevida do outro, do personagem público, do representante político. Como colocado acima, ela possui diversas categorias, o que não exclui a postura ética individual. Então, combater à corrupção é como lutar contra nós mesmos. Relembrando que o “nós” pode ser substituído por qualquer indivíduo. Seja branco, negro, amarelo, homem, mulher, brasileiros, russos, canadenses, paulistas ou mineiros. A nobreza da luta contra a corrupção reside em assimilar e condenar o erro do outro tanto quanto o próprio, que eventualmente escondemos dos que nos cercam. Erros com os quais somos obrigados a lidar em segredo.

A imprensa faz seu papel, os políticos sérios cumprem seus papéis, os órgãos públicos de investigação, da mesma forma. Cabe a “nós” contribuir à nossa forma. Empenhar-se nesse propósito revela o quão interessados estamos em fazer diferente e diferença.

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