10-06-2011 21:33

Quando se está offline

O COTIDIANO DAS GERAIS EM CRÔNICAS

Quando uma árvore faz toda a diferença

Por Érica Fernandes

Imagem: Divulgação

Numa dessas ruas, onde o asfaltamento ainda não chegou e os motoristas brigam por causa das pedras na estrada, havia uma grande árvore. A bendita, da qual nem me recordo o tipo, ficou despercebida até o dia em que quase despencou na residência de um dos moradores. Para evitar o acidente, a equipe da Cemig desligou a luz enquanto realizava a remoção da dita cuja. Por causa da operação, toda a rua acabou ficando sem eletricidade.

Quando me dei conta de que estava sem internet, televisão ou qualquer espécie de aparelho eletrônico. Sai na rua para ver com os funcionários da Cemig até que horas ficaria offline. Para minha surpresa, todos os vizinhos foram fazer a mesma coisa. Uma delas estava envolvida com um hobby, usando meias com havaiana e rolinhos no cabelo. A cena me causou risos.

Algumas mulheres seguravam velas apoiadas em pires. As crianças seguravam a perna das mães enquanto apontavam com o dedo os técnicos na escada cortando os galhos mais altos. Notei que não conhecia a maioria das pessoas. Ninguém queria voltar para a escuridão dos lares. Então ficamos reunidos em volta do caminhão da Cemig observando o trabalho.

No começo ficamos em silêncio. Os olhares arredios foram trocados por alguns instantes, mas nada de muito escandaloso, porque mineiro espia sem intimidar. Até que o vizinho da casa 213 começou a reclamar das autoridades. Só podia ser responsabilidade do Governo ficar sem luz numa hora daquelas. As mulheres começaram a se queixar da novela que não poderiam assistir. Não disse nada, mas me lembrei dos trabalhos que haviam para terminar no computador. E assim a conversa começou.

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Quando me dei conta de que estava sem internet, televisão ou qualquer espécie de aparelho eletrônico
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Passaram se alguns minutos e nos sentamos na calçada. O diálogo ganhou outro tom. O assunto começou com trabalho, depois passou para filhos e por fim, vieram as velhas histórias. Aquelas que acontecem no interior e que só o fulano de tal, que ninguém conhece e nunca viu, participou do ocorrido. Dessa vez, até o supervisor da Cemig se sentou na roda.

Risadas e suspiros deixavam as histórias ainda mais emocionantes. O sr° do casa 110, pôs-se em pé no meio da roda e como se a plateia fosse uma grande multidão, contou sobre as lembranças de moleque: do jeito que a mãe cozinhava, das brincadeiras de rua e como as moças da sua época eram mais avantajadas. No meio da narração, um dos técnicos grita para o supervisor: Chefe, podemos ligar a luz. Cortamos a metade da árvore, assim ela não cai para lugar nenhum.

A notícia que era para ser boa, não trouxe aplausos e nenhum grito de comemoração. Todos ficaram em silêncio e um a um fomos retornando para nos nossos lares onde a tecnologia nos aguardava. Liguei meu computador e pela primeira vez não fiquei tão feliz por estar online.

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Tópico: Quando se está offline

Data: 17-06-2011

De: Fernandes

Assunto: comentário

Muito bom o texto, tenho certeza q muita gente se identificou com o fato, ultimamente todos estão infurnados dentro de suas casas, mal conhecem seus vizinhos, sendo q a maioria de nós fomos criados "na rua", conversando, brincando, se divertindo, até mesmo fazendo frequentes visitas aos nossos vizinhos.

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