02-07-2011 21:52

Agora temos bagageiro

O COTIDIANO DAS GERAIS EM CRÔNICAS

Lotação é o nome correto para quem paga R$ 2,45 em uma viagem que você torce para acabar logo

Por Érica Fernandes

Imagem: Reprodução

Se você precisa de um incentivo para crescer na vida, entre em um ônibus circular no horário de pico em plena sexta-feira. Você não vai conseguir pensar em outra coisa a não ser mudar sua situação econômica. Não se trata apenas da imprudência dos motoristas, ou do péssimo estado dos ônibus, nem da  alta tarifa exigida pelas empresas de transporte. Mas porque se você quiser ir do centro aos bairros, em trajetos que podem durar mais de uma hora, você geralmente fica em pé durante todo o percurso.

O curioso é a situação ter se tornado tão ordinária, que dizer isso não causa nenhuma espécie de estranhamento às pessoas. Nas pessoas e nem no estudante de engenharia da UFMG, que conseguiu fazer seu grande prodígio: invenção de bagageiro para ônibus circulares.

De maneira nenhuma quero desprezar seu projeto habilidoso de criar bagageiros para ônibus público. Em uma das entrevistas, o próprio estudante afirmou que as “bagagens” impedem que mais pessoas entrem no ônibus. Convenhamos que se um ônibus comum suporta 37 pessoas sentadas e circula normalmente com aproximadamente 100 passageiros, talvez ele esteja certo em pensar que a real necessidade do transporte público seja dar mais espaço para mais pessoas irem em pé.

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O próprio estudante afirmou que as “bagagens” impedem que mais pessoas entrem no ônibus
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A crítica não é feita a um aluno universitário. Sua intenção, pelo menos em teoria, procura atenuar a situação caótica dos milhares de usuários do transporte público. A situação agravante se deve a outros fatores.

A questão do cinto de segurança é outro exemplo, que mostra a nossa quietude quanto à situação dos ônibus. Uma pessoa sentada sem cinto de segurança dentro de um automóvel em movimento corre grande risco de vida, no entanto, quarenta e dois passageiros em pé, dentro de um ônibus na mesma situação, estão fora de perigo. Chega-se a essa conclusão quando o Conselho Nacional de Trânsito gera multa de R$ 127,69 para condutores sem o equipamento de segurança (cinto) e simplesmente eximem qualquer transporte público lotado, de multa por falta do mesmo. Não apenas exime, mas permite.

De acordo com informações do site da Associação Brasileira de Transporte de Trânsito, Abetram, o cinto pode diminuir em até 90% as chances de morte no banco dianteiro e em 80% no assento traseiro, estes dados são para automóveis, porque para ônibus, obviamente, não há interesse em fazer esse tipo de teste. Mas não queremos colocar em pauta, ainda, a questão que tange o cinto de segurança. O que desejamos é pagar R$2,45 por uma passagem e viajarmos, mesmo que em pé, sem os transtornos da extrema lotação.

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