08-06-2011 14:38

Ser mineiro

Lucas Alvarenga

Editor-chefe de O Trem

Dizer que Minas são muitas é algo absolutamente desnecessário. A vastidão territorial do estado já indica a tendência à pluralidade. Além do mais, a capacidade de reunir o passado e o presente revela o quão complexo se tornou a sociedade mineira ao longo dos séculos. A diversidade chega ao ápice nas Gerais por meio do “mineirês”, que em nada se compara ao “gauchês” e ao “carioquês”.

Pesquisadores do Departamento de Linguística da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) verificaram que no estado há, pelo menos, quatro variedades linguísticas. Estes sotaques mineiros se acentuam de acordo com a ascendência que uma região de Minas sofre de determinada localidade do país.

O Norte de Minas, por exemplo, sofre forte influência dos baianos, enquanto o Sul traz em sua gênese o carregado "r" paulista. Na Zona da Mata, o "s" fluminense se destaca e na região central o dialeto mineiro, propriamente dito, suprime letras e faz a expressão “dedo de leite” se transformar em "dedileite".

Ser mineiro, porém, é muito mais do que se expressar por meio de um dialeto peculiar. Ser mineiro é uma questão para literatos como Fernando Sabino e João Guimarães Rosa até populares. Afinal, são os personagens de Minas os verdadeiros responsáveis por páginas intermináveis da história brasileira, desde as primeiras bandeiras de Antônio Dias Adorno e Fernão Dias à retomada da influência política com José Alencar e Dilma Rousseff.

Definir o que vem a ser mineiro sugere uma árdua tarefa, ainda mais complicada na prática. Com o posto de segundo estado do país em população, de terceira economia brasileira e com uma matriz majoritariamente branca e negra, Minas Gerais avança com um pilar na tradição dos cultos e das manifestações religiosas e outro na capacidade conciliadora, o que faz do mineiro um ser genuinamente político.

Por caberem tantas Gerais dentro de uma, o melhor a fazer, certamente, é não tipificá-la. Afinal, o melhor de Minas são os mineiros e as mineiras. Ao jornalismo resta, então, relatar o cotidiano dos privilegiados por aqui nascerem e residirem.

Já à webrevista O Trem compete a missão de apresentar a cultura do estado no seu conceito sociológico, revelando valores e costumes, primordialmente, por meio da reportagem, gênero nobre. Eis o desafio a ser resolvido a três: entre repórter, personagem e leitor. Fica o convite.

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Tópico: Ser mineiro

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