03-07-2011 16:32

Por um fio

CRÔNICAS E HISTÓRIAS SOBRE MINEIROS

“Como a neblina que passa a minha vida voa logo vai passar...”

Imagem: Reprodução

Por Kátia Brito

Viemos do pó e ao pó retornaremos. Isso é uma verdade, por mais negada que seja por todos, afinal ninguém quer morrer ou que alguém que ame morra. Entretanto todos nós temos uma certeza: um dia vamos morrer. De preferência, desejamos que a morte, nos visite, quando os fios de cabelo da nossa cabeça estejam ralos e brancos, que nossa pele esteja bem fina e cheia de rugas, sem começo nem fim, e que o sopro do vento seja capaz de fazer nossos ossos doerem. Porém, nunca se sabe quando ela chega. Ela não avisa, nem manda recado, ela está aí. Para uns logo ao nascer, para outros na flor da idade e há ainda aqueles que chegam aos 115 anos, entretanto torcendo para que o vento passe e leve, pois o cansaço é insuportável.

A luta pela vida não é fácil. É árdua. Principalmente se lutamos para que nossos amados fiquem um pouco mais e em condições de viver bem, por que viver doente ninguém merece. Pude presenciar nesta última semana como é difícil viver e contar com o nosso Sistema Único de Saúde (SUS). Alguns hospitais de BH estão em greve porque médicos e enfermeiros reivindicam salários e condições de trabalho melhores. Se você passa na porta de alguns desses hospitais você não verá doentes nem médicos, apenas placas escritas “Em greve”, “Por salários melhores” e um dizer que me chamou a atenção em especial: “Investem tudo na Copa do Mundo e na saúde nada?”.

Pois é, investimento nas necessidades básicas e essenciais dos brasileiros, e falando mais localmente, dos mineiros, está em falta. Os centros de saúde que não estão parados estão superlotados, pois todos os casos são encaminhados para eles. A cena é dolorida e de cortar o coração: pessoas gemendo encostadas em paredes, deitadas em cadeiras duras, idosos em macas pelos corredores fazendo suas necessidades diante de qualquer um que estivesse por perto. Para os acompanhantes dos doentes, preocupação, desconsolo e desespero: “Minha mãe está morrendo, ninguém vai vir atender?”. Não, ninguém foi, não puderam ou não quiseram, prefiro crer na primeira hipótese.

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“Investem tudo na Copa do Mundo e na saúde nada?”
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Saindo do hospital para o hemocentro, também em greve, a situação muda, mas nem tanto. Apesar de não estar com o atendimento normal ainda precisam de doadores de sangue, sempre precisaram. Como é difícil convencer um cidadão a tirar 500ml de sangue para ajudar pessoas que dependem de muito mais para continuar respirando. Eu vi, ano passado, uma pessoa quase morrer e foram três sacos daqueles que ajudaram-na a ter um fôlego a mais de vida.

Por estes dias recebi uma ligação no celular, de uma funcionária do Hemominas pedindo, por favor, para eu doar sangue, pois o meu tipo sanguíneo é super raro. Quando ela me disse que um paciente teve a cirurgia cancelada por causa da falta de sangue no estoque e do meu tipo, senti um misto de tristeza e vergonha. Pensei: “O meu sangue poderia ajudar esse rapaz, homem ou mulher a ter sua questão de saúde resolvida, quão egoísta eu tenho sido”. Eu posso doar, graças a Deus não tenho problemas, até fui doar, mas descobri que quem toma vacina contra gripe deve aguardar 30 dias. Pra mim ainda faltam cinco.

Depois disso tudo, refletir: quanto vale a vida? Se você perguntar para alguém que goza das suas plenas faculdades mentais e físicas ela te dirá uma coisa, para os que crêem em Deus outra resposta, o que está na fila de espera de um órgão mais outra e para aquele que sabe quantos meses terá nesta vida outra resposta completamente diferente. E para você quanto vale a sua vida? E quanto vale a vida de outras pessoas, além das que você ama?

Uma coisa eu te digo, você não sabe se amanhã você verá o sol e o céu e se poderá abraçar e dizer “Eu te amo” para os seus, então pare e observe como leva sua vida. Aproveite o dia para fazer algo por aqueles que te amam e por aqueles que você nunca viu e talvez nunca mais verá. Pense naqueles que dependem de um hospital, da doação de sangue, de remédios e de outras pessoas para se manterem vivos. Pense... “a vida voa e logo vai passar”...

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