12-06-2011 12:26

Haja distração

CRÔNICAS E HISTÓRIAS SOBRE MINEIROS

DILÚVIO - SEGUNDO ATO - Pedro Leopoldo é ali... quando a chuva está lá, no seu cantinho, sem nos incomodar

 

Por André Martins

Imagem: scx.hu 

Foi, no mínimo, muito estranho. De uma hora para outra o poeirão ganhou a atmosfera. Gotículas finíssimas de água eram lançadas ora para um lado, ora para o outro. Cabelos esvoaçavam para o desespero feminino. Papéis dançavam ao descontrole do vento. Velozes, ônibus desciam e subiam o viaduto. Chegava a ser até engraçado, aquilo tudo tão frenético, parecendo voar.

Rodamoinho? Uma tempestade? Ninguém sabia explicar ao certo. A única certeza era a de que passava das sete da noite e a conhecida constatação de que a combinação chuva + trânsito nunca deu lá muito certo por aqui, fazia os passageiros balançar a cabeça, pedir por misericórdia divina e dizer o sintético “Isso não vai prestar”, com aquela feição serena que só o desespero pode dar. O agravante: a rota da lotação era a Avenida Antônio Carlos, em obras, ou seja, definitivamente, a noite prometia!

E verdade seja dita, nunca me lamentei tanto por não andar com a trilogia “O Senhor dos Anéis” na mochila. Não sabia que a viagem de volta para a casa naquela quinta-feira azarenta, para mim a mais longa e traumática até o momento, seria a oportunidade de liquidar a fatura e descobrir logo o que Frodo arrumou com o danado do anel.

A viagem, que em boas condições de tráfego demorava cerca de 50 modestos minutinhos, teve o tempo quadriplicado. Haja paciência! Nos dois sentidos da Avenida Presidente Antônio Carlos o trânsito permaneceu impraticável durante cerca de quatro horas em razão das inúmeras quedas de árvores registradas na Avenida Pedro I. A orla da Lagoa da Pampulha e diversas residências de bairros ao norte da capital ficaram sem energia. Luz? Só a dos faróis da “manada” de carros.

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a rota da lotação era a Avenida Antônio Carlos, em obras, ou seja, definitivamente, a noite prometia!
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Em poucos minutos as emissões de rádio hard news traziam repórteres com as ocorrências em toda a cidade. Por pouco, mais uma árvore não fazia uma vítima em Beagá. Uma senhora escapuliu da morte ao abandonar o carro que dirigia cinco minutos antes da árvore ceder sobre o veículo.

Dentro dos ônibus as pessoas revezavam de lugar, porque haja perna para aguentar aquela maratona. O desespero se tornava ainda mais evidente quando a noite caia, mas não a ficha. O ônibus quase não saía do lugar. A seleção musical dos iPods e celulares já havia chegado ao fim. Não restava nada além do desespero, seja para comer, fumar ou pegar mais um coletivo e assim chegar em casa, “encostar” e tentar acordar bem disposto na manhã de hoje.

O alerta meteorológico foi dado. O fenômeno de ontem havia acontecido também no Rio de Janeiro e São Paulo devido à chegada de uma frente fria que ainda não deixou a capital de Minas Gerais. Com a chuva, as temperaturas despencaram e hoje foi um típico dia de outono. De acordo com o Instituto Meteorológico Climatempo, o sábado terá temperaturas também amenas: mínima de 14ºC e máxima de 21ºC. Na terça-feira, mínima de 9ºC.

- Confira mais:

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