16-06-2011 10:48

Roncou a cuíca na Assembleia Legislativa

O COTIDIANO EM MÚSICA E A MÚSICA DO COTIDIANO

"É coisa dos home/ A raiva e a fome/ Mexendo a cuíca/ Vai ter que roncar"

Por Lucas Alvarenga

A Assembleia Legislativa não seria um parlamento se lá não houvesse debate. Dos reajustes salariais à valorização das crenças africanas, para os deputados estaduais mineiros tudo se torna oportunidade... para discutir e discursar. Semana passada, porém, uma causa pra lá de válida entrou na pauta das audiências públicas da ALMG. O ciclo de debates "Estratégias para a superação da pobreza" colocou em xeque a miséria relatada na poesia musicada O Ronco da Cuíca. E não precisa ir muito longe para conferir o queo mineiro de Ponte Nova, João Bosco, expõe como o que ronca de raiva, ronca de fome.

No bolso de mais de 71 mil moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o dinheiro não para. Afinal, sobreviver com até R$ 70 ao mês é tarefa para equilibrista. Desde 2002, os "homens" que controlam os municípios da região até que cumpriram seu papel. Em sete anos, a miséria caiu 35,5%, ao ponto de dar à RMBH o título de maior redutora da pobreza extrema no país. Seria um bom motivo para comemorar SE ainda não ostentássemos um lugar no rol das áreas metropolitanas mais desiguais do Brasil. E o Governo de Minas sabe disso, afinal os dados foram apurados pelo Estado.

Ora, "A raiva dá pra parar, pra interromper/ A fome não dá pra interromper", já diria João Bosco. Em Mateus Leme, metade da população em situação de pobreza extrema sofre com a privação do saber. Sem tempo para frequentar uma escola, estes sujeitos pobres se tornam pobres sujeitos. Desqualificados para o mercado de trabalho, estas pessoas condicionadas à miséria ficam à mercê de uma quantia 286 vezes menor do que aquela recebida pelos deputados estaduais mineiros, os mesmos que discutiram a pobreza extrema.

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Afinal, sobreviver com até R$ 70 ao mês é tarefa para equilibrista.
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Hoje, apenas de salário, os parlamentares mineiros recebem R$ 20.041. Se incluirmos auxílios, como o moradia de R$ 2.250, o valor certamente representará duas décadas de permanência na miséria. Por isso, ronca a cuíca para o legislativo, ronca a cuíca para a imprensa, ronca a cuíca para a sociedade. Um desperdiça e atiça a indignação popular. A outra se cala ante a um "Governo de maravilhas", que na verdade, anestesia a imprensa. E a última, a população, há tempos não segue a máxima de Fernando Sabino, de que o "mineiro não olha, espia".

Talvez por isso falte ação para se combater a miséria, situação admitida pelo próprio coordenador do ciclo de debates, o deputado estadual André Quintão. Talvez por esta combinação de indignação e inércia, a fome não tenha raiva pra interromper e desminta o cantador. Talvez. Enquanto isso, a cuíca ronca de raiva, de fome, bem próximo de nós, em Minas Gerais, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Um recado de mineiro: João Bosco canta O ronco da cuíca

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