05-07-2011 01:29

Lá como cá

QUANDO A LITERATURA E O ESPORTE EXPLICAM O COTIDIANO

Há muito mais coincidências entre a viola caipira e o blues do que se pode imaginar

 Por Guilherme Reis

O estado das Minas Gerais foi rico em ouro, ainda é em café. Estado bom. Onde a riqueza florescia da terra. Grandes fazendeiros e bandeirantes por aqui passaram. Fizeram fortunas. Há algum tempo traziam também gente de outro continente para aqui trabalharem. Apanhavam e choravam. Suor, dor e sangue também fizeram parte da história da nossa terra natal.

As lagrimas que os desafortunados escravos despejaram na terra devido ao labor intenso não foi privilégio mineiro. Um “pouco” mais acima no mapa, nos Estados Unidos da América, homens trabalhavam e apanhavam também. Trazidos em navios, os homens de pele escura eram jogados para o intenso trabalho no sul daquele país.

As coincidências são muitas. Inclusive não apenas no trabalho forçado, na música também. Aqui a viola caipira é um traço marcante da nossa cultura. Dos acordes despejados por ela ecoam tristeza, sofrimento e muitos simbolismos culturais. Lá na América tem o blues, que transborda sentimentos parecidos.

- - - - - - - - - - - - - - -
Os violeiros e os bluesmans clássicos muitas vezes eram autodidatas
- - - - - - - - - - - - - - -


Aqui a viola começou arcaica, instrumento de madeira que muitas vezes era construído de materiais artesanais, arame e madeira velha. O canto era triste e lembrava a senzala. O violeiro cantava sobre suas tarefas no meio rural, sobre homem e deus e sobre o amor. Esse último parece ter feito muito capial chorar e se encher de solução etílica.

No Delta do Mississipi não foi diferente. Lá os homens descendentes diretos de escravos faziam sangrar os acordes cantando sobre as dificuldades que tinham na vida dura que ganharam. Falavam dos tempos de escravos, do trabalho, sobre deus e o diabo e também do amor. Claro regados a álcool. 

Musicalmente, a viola caipira e o violão no blues se parecem muito. Na viola caipira, o músico cantava e logo depois respondia ao que havia cantado com frases no instrumento para ilustrar a história. Os violeiros e os bluesmans clássicos muitas vezes eram autodidatas. Mesmo em continentes diferentes esses cancioneiros populares são co-irmãos. Deixar de reconhecê-los é negar a própria história. 

Mas por que são tão parecidos? Talvez porque os homens daqui sofram como os de lá. Talvez todo cancioneiro popular no mundo inteiro sofra pelos mesmos problemas. Talvez a dor seja universal. Os homens de lá choram como os daqui.

Para ter certeza das semelhanças é só conferir:

Tião Carreiro e Pardinho com sua moda de viola

Robert Jonhson e o blues estadunidense

—————

Voltar


Tópico: Lá como cá

Não foram encontrados comentários.