28-06-2011 18:58

Isso não é amor, isso é outra coisa

CRÔNICAS E HISTÓRIAS SOBRE MINEIROS

Até quando o medo continuará a prevalecer em tais olhos?

 

Por André Martins

Imagem: José Cruz/ Agência Brasil

Esta semana me deparei com uma pequena nota que me despertou para refletir a respeito de um sentimento associado à afetividade, fraternidade, ao querer bem. Infelizmente é também sentimento ao qual o homem tem deturpado, empurrando a ele novos significados nada nobres, diga-se de passagem. Hoje o amor é também, dependendo do ponto de vista, possessão, domínio, algo que aprisiona, monopoliza.

Em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma mulher de 22 anos teve o corpo incendiado pelo marido depois dela requerer a separação do cônjuge. Ele não aceitou e não pensou duas vezes em atear fogo na companheira. A jovem sofreu queimaduras de primeiro e segundo graus, mas escapou com vida, ao contrário da cabeleireira que perdeu a sua após ser atingida a queima roupa por tiros disparados pelo próprio marido, naquela tragédia que chocou o país no início do ano passado.

Tal disparate está, sim, relacionado à figura do homem possessivo e ciumento, mas talvez o que mais mereça alguns minutos de nossa reflexão e que, espero, ainda assuste - pois a partir do momento em que deixamos de nos assustar com isso perdemos um pouco de nossa essência humana - é perceber que essas manchetes já não são mais tão atípicas.

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Precisamos aperfeiçoar nossa política de proteção às mulheres
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Graças ao bom Deus, foi-se o tempo em que as pessoas eram ligadas umas às outras por convencionalismos, para preservar a família, a célula mater que não poderia ser, em hipótese alguma, desfeita, ainda que isso custasse a frustração das mulheres dos séculos passados. Mulheres que tinham de lidar em silêncio com toda uma vida de violências físicas, traições e a desonra de olhar para a outra, ou as outras, do seu “senhor”.

A mulher tem assumido um outro papel na sociedade. Sendo o Brasil um país ainda muito machista, não é ilógico se deparar com a violência contra o sexo feminino. Nem para todos é fácil assimilar que elas já não são o que eram antes. E esse fato, por mais que digam que há aceitação social, não é totalmente assimilado por muitos. Na realidade, a figura da mulher subserviente se esconde na cabeça de alguns. Quando o homem é inseguro e já possui uma certa tendência a ser violento - o que leva as mulheres a pedirem a separação - esse tipo de “amor”, que funciona como o sintoma de uma grave doença, é externado dessa forma. É lamentável, mas acontece.

Precisamos aperfeiçoar nossa política de proteção às mulheres. Em muitos casos, o que se tem hoje é insuficiente para garantir a elas segurança. Muitas fazem denúncias sistemáticas, mas não são assistidas de maneira adequada. Se este é mais um caso que se enquadra nessa realidade, só o tempo dirá. Talvez quando as feridas dessa mulher, cujo nome não foi divulgado, enfim, cicatrizarem por dentro e por fora.

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