05-07-2011 21:52

A hora do aperto

A falta de lugares apropriados na capital mineira faz com que as pessoas se “aliviem” nas ruas. Eca!

É difícil andar pelo centro e achar um sanitário limpo - quando se encontra algum sanitário.

Texto e imagem: Rafael Sandim

Qualquer belo-horizontino que se preze já andou pelo centro, fez compras, conheceu lugares e, na hora do “aperto”, teve que segurar a vontade de usar o banheiro até chegar em casa. A situação enfrentada pelos cidadãos de Beagá parece não ter fim tão cedo. Há quem prefira usar as ruas, o que piora ainda mais a situação, já que o centro da cidade acaba com um cheiro insuportável. Toda essa verdadeira merda - com o perdão da expressão - gera trabalho para os donos de loja que precisam limpar o local para não perderem a clientela. Ninguém suportaria ficar em um local com tão desagradável odor.

Atualmente, no centro de Belo Horizonte, os mais procurados banheiros gratuitos se encontram no prédio do Unidade de Atendimento Integrado (UAI), na Praça Sete, no Palácio das Artes e no Parque Municipal Américo René Gianetti. Os sanitários do parque funcionam de 6h15 às 17h, sem adaptação para quem usa cadeira de rodas. A melhor opção para os deficientes físicos são os banheiros adaptados. Eles, entretanto, são pagos.

O problema se tornou tão grande que até mesmo os sanitários com taxa de R$ 0,50, na Rodoviária de Beagá, não são suficientes para o volume de pessoas que passam pela região central todos os dias. Sem opções, elas usam as ruas ao redor do terminal rodoviário. Passando pela passarela que liga a Lagoinha ao terminal, a situação é crítica. Vendedores ambulantes em frente à entrada da estação de metrô - bem no meio da passarela - reclamam do "cheiro forte e da imundice do xixi". Nem queira imaginar o drama.

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Toda essa verdadeira merda - com o perdão da expressão - gera trabalho para os donos de loja que precisam limpar o local para não perderem a clientela
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Os banheiros do Mercado Central também são pagos. Fazer o “1” ou o “2” só se tiver dinheiro no bolso. Qualquer moedinha de cinquenta centavos resolve. Estima-se que mais de duas mil pessoas usam os sanitários do centro comercial diariamente. Bem próximo ao Mercado, o Shopping Cidade também disponibiliza banheiros a R$ 0,50. Lá encontramos os sanitários com melhor estado de conservação e limpeza do hipercentro. O problema é a fila. Às 13h, da sexta-feira, dia 30 de junho, oito pessoas aguardavam na fila para usar o dito banheiro da entrada da Rua dos Tupis. Antônio, um senhor de aproximadamente 30 anos, esperava na fila e desistiu. "É pago e ainda por cima demora. Um absurdo". Sigo na fila. O constante fluxo da equipe de limpeza do Shopping no sanitário afasta o usuário de situações inconvenientes. Um alento após tantos problemas.

De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), 40 mil pessoas transitam pela região cotidianamente. E muitas, na hora do aperto, convivem com a falta de banheiro, com as péssimas condições de limpeza e o imbróglio dos horários de funcionamento. Os banheiros atendem à população apenas no horário comercial. Dessa forma, a rua se torna uma privada ao ar livre nas noites e madrugadas. Situação acentuada nos locais ausentes de banheiros públicos, caso da Praça Raul Soares.

Uma das possíveis soluções é a empresa mineira Banheiros Limpos, que comercializa sanitários em condições adequadas para que todas as pessoas utilizem. Tem até fraldário e chuveiros. Com o slogan "Alguma hora você vai precisar", a companhia tem crescido. Veja só o blog dela. A página contém informações sobre higiene e notícias relacionadas. O valor do banho é R$ 8,00, com direito a 10 minutos de chuveiro ligado, sabonete e toalha. O uso comum do sanitário higienizado é R$ 0,75. O horário de funcionamento é de 7h às 21h. Cerca de 400 pessoas usam o sanitário diariamente. No final de semana o número diminui para 350 usuários, em média.

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E a falta de banheiro não é o único problema. A limpeza dos locais também não é a das melhores
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A incerteza quanto ao fato de os banheiros serem ou não pagos durante os próximos anos dá lugar a possibilidade. Deputados da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais tiveram a ideia de um projeto de lei que implicaria no fim da cobrança pelo uso de sanitários públicos na região central de Belo Horizonte. Os deputados tomaram a iniciativa após denúncias de discriminações com pessoas de baixa renda nos banheiros pagos.

Enquanto não há uma melhora significativa nos banheiros públicos, uma das opções para as mulheres é usar o produto não-descartável da empresa OiGirl, que possibilita que elas urinem sem ter que sentar no vaso sanitário. O material é parecido com um cone, que reproduz uma espécie de órgão sexual masculino. Ele é feito de silicone reutilizável e não permite o desenvolvimento de bactérias, ainda que não seja lavado após o uso.

Para aquelas que ainda não tem o produto e precisam usar banheiros públicos diariamente, a dica é apoiar-se nas pernas e não se assentar no vaso, atentando-se para cobrir a superfície de água com uma camada de papel antes de usá-lo. Cuidado também com o papel higiênico. O rolo pode estar contaminado se estiver perto do lixo, vaso sanitário ou no chão. Tenha na bolsa o seu próprio papel. Se não tiver, descarte os primeiros centímetros do material disponibilizado para depois retirar o pedaço que fará uso. Não use toalhas de mão. Elas, quando molhadas, são fontes de fungos.

Especial:

- O mapa da "hora do aperto" do hipercentro de Belo Horizonte


Visualizar Banheiros no centro de Belo Horizonte em um mapa maior

Confira também:

- Documentário "No banheiro", produzido por alunos(as) do 7º período de Jornalismo do UNI-BH/ 1º sem. 2011

- Beagá: em cada esquina uma privada

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Tópico: A hora do aperto

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